terça-feira, 20 de outubro de 2009

FOTOS DE GRAÇA MARTINS - Arquivo 2008/2009

SLEEPING BEAUTY - Texto de JOÃO BORGES sobre trabalhos de GRAÇA MARTINS - publicado no blogue Camel & Coca Cola em Março de 2008

Qualquer texto com referências biográficas começaria por dizer que Graça Martins nasceu em 1952, mas o ano em que nasceu e a consequente idade não parecem influenciar o trabalho da artista, na medida em que não reflectem um envelhecimento enquanto pessoa. A base do trabalho desta artista plástica é a sua capacidade de olhar para o que a rodeia e de se conseguir identificar em tudo isso. Posto isto, não é de estranhar que, as raparigas que pinta, retratando ao mesmo tempo as realidades urbanas contemporâneas, não sendo auto-retratos, não perdem a evidente carga autobiográfica. Se quisermos dividir o seu trabalho em fases, de forma a traçar uma evolução, podemos dizer que, primeiramente, havia um primado do desenho que acabava por proporcionar uma abundância de pormenores e um perfeccionismo obsessivo ( não no sentido depreciativo). Aqui se inserem, por exemplo, as suas características figuras em pijama, onde a cabeça é eliminada, de forma a concentrar a atenção do espectador na expressão das riscas e das curvas dos tecidos e focalizar a sensualidade no fragmento registado. Iriam ser precisamente estes desenhos, a grafite, que dariam a Graça Martins o 1º Prémio de Desenho na comemoração do Bicentenário da Invenção do Lápis, patrocinado pela fábrica de lápis Viarco e organizado pela Árvore, concorrendo com cerca de 700 candidatos. E não ao acaso. A astúcia com que domina a técnica vem de facto mostrar que só podemos estar perante uma postura artística prodigiosa. Nesta tendência mais "desenhista" enquadram-se também os inúmeros retratos de escritores como os poetas Eugénio de Andrade, Isabel de Sá, Florbela Espanca ou Rimbaud. As capas de livros que faz, também, desde os anos 70, marcam um registo ainda mais poético do desenho de Graça Martins. Contam-se as capas para livros de Isabel de Sá, Maria Teresa Horta, entre outros. Numa fase mais recente, o trabalho evoluiu no sentido da simplificação. Num registo ligado à influência da Pop Art, continua a retratar as suas características meninas, sempre no sentido de evidenciar alguma ideia. Como feminista que é, os seus trabalhos remetem-nos frequentemente para temáticas ligadas à condição feminina. Olhemos para "Silence", em que uma mulher de beleza extraordinária se resigna ao silêncio. Nestas séries, ainda que haja um equilíbrio entre pintura e desenho, não deixa de se notar a mesma subtileza no traçar do desenho. Também a sua formação em Design Gráfico tem acentuado algum gosto pela Pop Art. Quer seja na inserção de fotografias nas telas (veja-se a homenagem a "Rimbaud"), quer pela utilização de palavras ("Don't Forget Me"), quer pelo desenho de objectos do quotidiano ("As Minhas Botas"). "Sleeping Beauty" será , provavelmente, o expoente máximo da fase actual da obra de Graça Martins. A fase em que o desenho meticuloso se encontra com uma pintura simples de atmosfera Pop Art, com uma tendência gráfica.São raparigas de ambientes urbanos, a denunciar problemas e condições ligados ao universo feminino. Não no sentido de reinvindicar ou escandalizar, mas usando a observação como forma de denúncia desses problemas ou ambientes. Não só o silêncio, o resumo à beleza, os esteriótipos que vitimam a mulher, como também outras atmosferas mais poéticas, por exemplo, a beleza e simplicidade de um olhar em "The Look" ou a vontade de expressão em "The Key". Mas, há algo de comum em todos os trabalhos da colecção, seja qual for a sua temática: a sensibilidade com que são abordados. O erotismo em cada uma das telas, simbologias e sentimentos que o corpo e a sua expressividade nos mostram, mesmo nos rostos encobertos:("The Nigth Of Cinderella", "Enquanto Não Se Esquece O Passado"), em cada seio que se revela quase involuntariamente ("Sleeping Beauty"), em cada abraço ("Urban Teenagers"), na solidão ou companhia de cada uma ("Lolitas"). São meninas resignadas, emancipadas, desorientadas ou conscientes, acordadas ou adormecidas. A isto pode-se chamar , sem perigo, "poesia visual". A utilização da cor insere também as personagens nesses estados de alma. O azul calmo e nostálgico de "Enquanto Não Se Esquece O Passado", o laranja quente em "The Look", O cor-de-rosa sensual de "The Nigth Of Cinderella", os laranjas tropicais em "I've Got You Under My Skin".