sábado, 22 de agosto de 2009

O DUPLO NA ARTE: O DUPLO - SOMBRA OU ESPELHO E O FANTASMA DA MORTE
Num texto escrito em 1914, intitulado «O Duplo» Otto Rank compara o artista criador ao herói, tal como existiu na humanidade pré-histórica. Durante os grandes períodos criadores da cultura, o artista «preenche a função social do herói antigo que lhe fornece sempre o assunto e o modelo» (Rank 1914:6). A arte assumiria pois esse papel de simbolização do inconsciente que noutras épocas coube preferencialmente ao mito e à religião. A ideia de morte e de desaparecimento, que é uma das mais importantes determinações da religião e dos mitos, surge também como uma das determinações fundamentais do discurso artístico.
(...) A relação entre o duplo e a morte não é nova nem aleatória. O duplo está originariamente ligado à ideia de alma enquanto esta é vista como essência descarnada, imaterial, que assegura a continuidade do Eu para além do corpo.
(...) O culto do duplo permite uma divisão do sujeito que o subtrai à angústia de morte associada ao narcisismo, diz Rank. Para este autor, a duplicação surge frequentemente associada ao sentimento de culpa, que leva o heroi a desresponsabilizar-se de certas acções do Eu e a encarregar delas um outro eu - «a alma demoníaca», o «Diabo«, o espelho persecutório: «as tendências e inclinações reconhecidas como condenáveis são separadas do Eu e incorporadas neste Duplo».
Margarida Medeiros,Fotografia e Narcisismo, Assírio&Alvim, Lisboa, 2000

Sem comentários:

Enviar um comentário